sábado, 16 de julho de 2011

CATÁLOGO DA COLEÇÃO NUMISMÁTICA BRASILEIRA – AUGUSTO DE SOUZA LOBO – 1908


Detalhe da página de rosto do Catálogo da Coleção Numismática Brasileira
de Augusto de Souza Lobo - 1908. Observem o estilo “Art Nouveau” nos ornamentos laterais, típico do inicio do Século XX.
(clique para ampliar)
A Universidade da Florida disponibilizou o livro de Augusto de Souza Lobo – “Catalogo da Collecção Numismatica Brasileira” de 1908. Trata-se do exemplar n° 82 (dos 500 que foram impressos).
Passamos a transcrever o Prefácio e a homenagem a Julius Meili contidos nesta obra, vejamos:
Prefácio
"Uma coleção sem catálogo é um corpo sem alma" (Prolóquio popular)
Dando a público o catálogo da nossa coleção, não tivemos em mente outras pretensões que a de concorrer com o nosso fraco contingente para maior desenvolvimento da numismática no Brasil.
Não temos a estulta vaidade de o apresentar como um trabalho perfeito, que para tanto nos falece a competência, - imprimimos-lhe, porém, uma feição que o pôde tornar útil auxiliar aos neófitos deste ramo da arqueologia, pelo grande desenvolvimento que demos à parte gráfica cujo número de gravuras se eleva a duas mil duzentas e três.
Nada criamos, nada inventamos e pouco ou nada inovamos; pesquisar, coligir e compilar – foi nossa missão, seguindo a rota luminosa do ilustre numismatógrafo Sr. Julius Meili, nosso fanal neste cometimento.
É, sem dúvida, o primeiro trabalho neste gênero empreendido no Brasil, onde, infelizmente, as artes gráficas tem muito a desejar.
A unificação da luz nos diversos metais não atingiu o nosso ideal, a despeito da reprodução em gesso por nós previamente feita; - convém, entretanto, notar que um modelo ruim não pode dar boa gravura.
A dificuldade com que lutamos devido ao atraso das artes gráficas neste pais muito nos prejudicou a exata e nítida reprodução dos vários modelos e daí as dificuldades, as falhas que se observam nos sinais característicos a cada moeda.
É de se lamentar que uma capital como a nossa ainda tanto se ressinta da escassez de materiais gráficos, comprometendo assim, em parte, a execução de trabalhos que requerem o máximo escrúpulo.
Entretanto, julgamos apresentar ao público o que de melhor se pôde conseguir com o pouco que encontramos – e assim não sem grandes esforços e sacrifícios.
A título de curiosidade reproduzimos quatro retratos de monarcas, que não adotaram a efígie nas moedas; a prioridade desta iniciativa, no Brasil, cabe a D. João V, com também a criação das moedas denominadas “Escudos”.
A exceção de D. Manuel, justificado aqui pelo fato altamente histórico do descobrimento do Brasil – D. João IV e D. Afonso VI ligam-se intimamente à Numismática Brasileira por sucessivas evoluções monetárias decorridas em seus reinados; quanto a D. Pedro II, basta dizer que foi o fundador das primeiras casas monetárias no Estado do Brasil, a cujo povo, por sua alta magnanimidade, concedeu o exercício da soberania nacional.
O nosso modesto catálogo, iniciado há três anos, só agora ficou concluída a sua impressão, o que nos permitiu durante este lapso de tempo, adquirir diversos exemplares valiosos, cuja descrição damos em um suplemento anexo ao presente.
Se este nosso esforço puder estimular o animo a outros mais competentes do que nós a prosseguirem nas investigações e pesquisas, reunindo novos elementos para elucidação completa da História da Numismática Brasileira, teremos atingido o alvo! Será maior compensação a que podemos aspirar da benevolência dos leitores.
Augusto de Souza Lobo.
Dr. Julius Meili
Em Zurique, onde havia fixado residência, faleceu em 26 de setembro de 1907, o notável numismatógrafo Dr. Julius Meili, a quem prestamos nestas linhas a homenagem modesta, mas sincera de nossa grande admiração pelo muito que lhe devemos.
Julius Meili foi por longos anos comerciante no Brasil, onde também exerceu as funções de Cônsul da Suíça – seu país natal. Espírito investigador e inteligente, não se subordina exclusivamente aos afazeres comerciais e consulares. O seu descanso era o trabalho paciente e rebuscado da grande paixão que sempre o tomou – a Numismática Brasileira, que tudo lhe deve.
Possuidor de grande fortuna, conseguiu reunir a maior e mais bela coleção de moedas que se conhece.
O Dr. Julius Meili precedeu o catalogo de sua coleção de uma monografia “Die Münze des Kaiserreichs Brasilien – Zürich, 1890”.
A parte referente ao Brasil – Colonial, foi mais tarde publicada em grosso volume “Die Münze des Colonie Brasilien - Zürich,1897” A seguir publicou, em rico álbum, “O Meio Circulante do Brasil – Zürich, 1903”.
A parte relativa do Brasil independente, apareceu em 1905 “Die Münze des unabhängigen Brasilien – Zürich, 1905.
Ampliando a primitiva publicação das Medalhas do Brasil “Die auf das Kaiserreich Brasilien Bezuglichen Medaillen”, tinha em mãos uma nova edição, grandemente aumentada, como vimos pelas estampas que gentilmente nos remeteu.
Infelizmente, porém, a morte o surpreendeu antes de have-la concluído.
Galardoando os relevantes serviços do criador das numismática brasileira, o Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, distinguiu-o com o honroso e merecido título de sócio honorário, e pela Universidade de Zurique e Governo da Confederação Suíça lhe foi conferido o diploma de Doutor em Filosofia em atenção aos excelentes trabalhos feitos sobre este ramo da arqueologia.
À numismática portuguesa que faz parte da sua rica coleção, consagrou também três interessantes monografias: “Portugiesische Münzen – Varietaten und einige unedirte, Stüche – 1890” Contos para Contar (“Jetons Portugueses”) – Lisboa 1900” e Moedas portuguesas de ouro carimbadas ou cravejadas nas Índias Ocidentais e no Continente Americano – Lisboa, 1902.”
Julius Meili foi nosso mestre e amigo. Mestre – prodigalizava-nos as luzes de seus profundos conhecimentos numismáticos e amigo – sempre lembrado amigo – acolhia-nos de peito aberto, com toda a generosidade de seu nobre coração.
O destino não permitiu que o nosso eminente Mestre sobrevivesse ao término deste modesto catálogo, que ele tanto ansiava ver concluído. A propósito das estampas que solicitamente lhe remetíamos, a proporção que iam sendo impressas, Julius Meili nos escreveu a carta que com desvanecimento reproduzimos, abaixo em fac-símile, como testemunho da nossa elevada gratidão ao inolvidável mestre, e homenagem respeitosa a Madame Viúva Nina Meili-Schiffmann, dedicada consorte nos seus profícuos trabalhos.” (in, Catálogo da Coleção Numismática Brasileira de Augusto de Souza Lobo. Rio de Janeiro: 1908, p.I-IV).
Obs.: O texto transcrito comporta adequação ortográfica.
Catálogo da Coleção Numismática Brasileira de Augusto de Souza Lobo – 1908
Fonte: Universidade da Florida (em arquivos jpg e em pdf)
Assuntos relacionados:
Numismática Julius Meili I, II, III, IV e V
Livros de Julius Meili disponiveis on-line: